quinta-feira, 18 de outubro de 2012

O Campo de Flores de Papel


Field of Paper Flowers (por Whitney Leith)



O que não podia era tudo continuar do jeito que estava. Vivia num lugar morto, sem movimento, sem som, sem cor. E não havia ninguém disposto a mudar isto, por pura acomodação.

Até que teve uma idéia. Abriu a velha caixa de bugigangas e encontrou, bem lá no fundo, um pouco amassado, aquilo que precisava. Só faltava agora uma tesoura, e quando a conseguiu, começou a trabalhar.

O papel rendeu pouco. Foi atrás de mais. Pegou alguns trocados na carteira e foi até a papelaria. E começou a fazer mais e mais. Encheu uma caixa de TV que estava encostada no quartinho de quinquilharias, e carregou-a até a praça da cidade.

Era uma praça cinza. Gramas secas. Árvores desfolhadas. Começou a tirá-las da caixa e espalhá-las em torno de si. 

Na hora do almoço parou pra comer um sanduíche. Ficou olhando o que já havia feito.

"Que lindo!" "Olha só que beleza!" "Nunca tinha visto algo tão maravilhoso!"

E os comentários não paravam, tamanha era a admiração de todos pelo enorme campo de flores de papel que foi crescendo sem alarde ao longo de toda aquela manhã.

A primavera havia encontrado outra forma de chegar naquele ano.



(micro-conto originalmente escrito em 30/10/2008)

2 comentários:

  1. Parabéns por mais um texto maravilhoso. Aguardo ansiosa cada postagem do blog e me delicio com criações tão singelas e vívidas. Vocês realmente conseguiram um casamento literário perfeito, que espero seja duradouro para o prazer de seus leitores.

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    1. Obrigado pelos elogios e pelo apoio, Solar. :)

      Ainda temos muito para compartilhar com vocês. Continue conosco.

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