domingo, 21 de outubro de 2012

A Manga e a Manhã de Sol - Parte 6


A vontade de Sam quando a viu sair do café foi correr atrás ela de novo, e acompanhá-la até o trabalho, só pra passar uns minutos a mais ao lado dela. Mas ele achou melhor terminar por ali mesmo naquele dia, pra não causar má impressão. "O destino vai pensar em algo..."

- Mas eu vou dar uma forcinha pra ele... - pensou alto.
- Perdão, senhor..?
- Hmm?! - olhou pra cima distraído, era o garçom - Ah sim! A conta por favor.
- Só um minuto, senhor.

Dali Sam foi direto pro trabalho. Entrou no estúdio distraído, pegando meio que sem pensar vários pincéis, o jato de ar comprimido, algumas latas de spray. Jogou tudo dentro de uma caixa, e foi levando pra caminhonete do lado de fora do prédio.

- E aí, Sam?
- Fala, Roger! - botou a caixa na carroceira, e já virou apertando a mão do rapaz - Beleza, véio?
- Na paz. Tá indo fazer a parede da Morning Star?
- Isto. Vou ver se adianto bastante agora de manhã, e termino até o final da tarde.
- Ontem chegou outro serviço pra gente logo depois de você sair.
- Ah é? E qualé a parada?
- Vão abrir uma nova galeria de arte perto da rodoviária central. Querem que a gente faça uns painéis em vidro pra decoração do salão principal.
- Parece coisa fina.
- E é mesmo. Vão pagar bem pra caramba, véio!
- Bom saber, cara. Tô afim de adiantar umas prestações da moto.
- Falando nela, em que pé tá o conserto?
- Liguei pra lá ontem, disseram que tá quase pronta.
- E o braço, tá melhor?
- Ah, quase não tô sentindo mais dor. Ainda bem que não quebrou nem nada, senão era capaz de acabar embaçando essa parada da galeria.
- É... Mas não aconteceu nada de grave. É isto que tá valendo.
- É...
- Bom, eu vou lá dentro fazer uns telefonemas. Você já vai?
- Vou pegar mais umas coisas lá dentro, e depois tô vazando.
- Ah, espera um pouco. Não vou levar nem 10 minutos. Vou até lá com você.
- Tá ok.

Sam pegou mais alguns pincéis e latas de tinta distraidamente, ainda pensando em Helena. Sentou meio de qualquer jeito na carroceria, cruzou os braços de um jeito bem largadão, e pensou: "Eu devia pelo menos ter pego o telefone dela..."

- Tá aí pensando no quê, rapaz?
- Nada não... Só...
- Só?
- Conheci uma garota hoje de manhã no ônibus.
- Opa! E pelo jeito te causou boa impressão pra te deixar assim.
- Ela era... radiante.
- Vixi... hahaha. Vai dizer que foi amor à primeira vista?
- Não sei, cara... Nem vou arriscar chamar isto de nada. Mas ela mexeu comigo. Aquele sorriso... O jeito dela...
- Tá apaixonado! Ah-lá, até corou agora! hahaha
- Ah, não enche, cara! - tentou parecer irritado, mas não conseguiu conter o riso.
- Mas, e aí, qualé o nome dela?
- Helena.
- Nome bonito. E o que vocês fizeram?
- Conversamos um pouco no ônibus, daí fomos tomar café juntos.
- Isso, garoto! Iniciativa é tudo!
- Ela já ia saindo sem me dizer o nome!
- Peraí, você foi atrás dela?
- Aham.
- Pra perguntar qual era o nome?
- Sim.
- Cara, que lindo! Conquistou a garota com essa.
- Ou fiz ela pensar que eu era um pervertido.
- E como ela reagiu?
- Correu tudo bem. Ela pareceu gostar.
- Mulheres gostam de caras ousados.
- Espero que sim... Mas o que é que a gente tá fazendo aqui ainda? Bora trabalhar, rapá! Já estamos atrasados.
- Tá, mas chega pra lá. Eu dirijo. Enquanto isto você conta mais um pouco sobre essa garota que conheceu.

E Sam contou a Roger cada detalhe de seu encontro com Helena, saboreando cada detalhe, e repassando cada momento daqueles breves minutos com ela, ansioso para repetir a dose.

Passou o dia pintando com Helena indo e voltando em sua memória, quase como se fosse ela a dona do lugar, averiguando de tempos em tempos o progresso de seu trabalho, com muito interesse. 

A distração e o trabalho ajudou o dia a passar rápido. Chegou em casa, tomou um banho, e deitou um pouco pra relaxar, mas não conseguiu. Não era capaz de esquecer o rosto de Helena. Levantou num salto. Teve uma idéia.

Correu pra escrivaninha, pegou seu bloco de A3, um lápis, e começou a rascunhar. Perdeu a noção do tempo enquanto desenhava, dando um retoque aqui, uma apagada ali. Tinha que sair o mais perfeito possível. Quando terminou já passava da uma da manhã.

- Destino, você vai ser meu melhor amigo agora, e vai me ajudar a encontrar essa garota de novo - estava quase em transe quando disse isto, olhando para o retrato que desenhou de Helena.

No dia seguinte foi para o mesmo ponto de ônibus onde a encontrou. Estava ansioso e nervoso demais. Carregava consigo uma pasta de couro grande, dentro trazia o bloco de A3. Olhou para um lado e para o outro da rua, observando atentamente se não via ela chegando de longe. Nem sinal.

"Ela deve tá atrasada."

Cinco minutos depois o ônibus chegou.

"Talvez ela já tenha pego em outro ponto. Talvez já esteja lá dentro!"

Subiu no ônibus de maneira apressada. Olhou cada uma das cadeiras ocupadas. Ela não estava ali.

"Será que peguei o ônibus certo?"

- Senhor, esse é o que vai pra Avenida Dois Lagos?
- É esse mesmo.
- Hmm... Obrigado...

Caminhou meio cabisbaixo até uma poltrona ao lado da janela, e ficou olhando pra fora.

"Talvez ela esteja muito atrasada..."

E assim foi ao longo de toda aquela semana. Sempre o mesmo ponto de ônibus, sempre com a esperança de encontrá-la por lá, e sempre descobrindo que ela não estava entre os passageiros.

"Qualé, Destino?  Eu quero ser seu amigo, mas você não tá cooperando!"

Mal sabia Sam que durante todo esse tempo, Helena estava...


CONTINUA...

Nenhum comentário:

Postar um comentário