terça-feira, 30 de outubro de 2012

A Manga e a Manhã de Sol - Parte 7


Mal sabia Sam que durante todo esse tempo, Helena estava...

... Estava cuidando da sua avó por uns dias no interior, ela havia passado por uma pequena cirurgia na perna e não podia andar.

- Mais sopa vovó?
- Não minha querida, obrigada, já comi demais.
- Tem certeza? A senhora parece tão fraquinha...
- Coisas da idade minha filha, sua avó já não é mais mocinha, 72 anos é muito tempo.
- Magina... A senhora tá na flor da idade, ainda vai fazer muitas coisas nessa vida!
- Ai ai minha doce Leninha, minha netinha por isso que vovó te ama tanto.
- Bom estou na cozinha lavando a louça se precisar de mim é só me chamar.

Enquanto ensaboava os pratos, Helena pensava em Sam, pensava no café, e esperava ansiosa para encontrá-lo de novo, para que o destino "tomasse uma atitude" e o colocasse no seu caminho novamente.

Será que ele ainda se lembra de mim? Pensou e falou baixinho. Será que está me esperando? E pensar tornava apenas maior sua ansiedade.

Helena ainda passaria mais alguns dias com a avó, pelo menos até o médico dizer que era seguro voltar a andar.

E enquanto isso Sam passava as tardes no trabalho distante, distraído, pensando no sorriso de Helena, a doce Helena... Olhando para o rosto desenhado, sonhando com o momento em que veria seus olhos de perto de novo, seu sorriso doce... Sua voz tão suave... Estava apaixonado, apaixonado pela garota do ponto de ônibus, precisa admitir pra si mesmo que ela mexera com ele.

- Será que ela me esqueceu? Será que tá fugindo de mim? Disse baixinho 
- Que foi? Perguntou Roger
- Nada não, to falando sozinho... Pensando alto, desconversou.
- Tá pensando nela né?!
- Difícil é não pensar... Mas ela sumiu tem dias acho que deve tá fugindo de mim, vai ver só quis ser simpática, mas nem gostou tanto assim da minha companhia, sei lá...
- Ahhh, mas tá apaixonado mesmo... Relaxa cara, não seja paranóico, dá tempo ao tempo que mais cedo ou mais tarde ela aparece... Vai ver ela foi viajar... Sei lá... Mas relaxa logo ela aparece você vai ver.
- Tomara cara, tomara, porque isso já tá me deixando doido.

E continuou ali trabalhando, pensando em Helena entre uma pincelada e outra, tentando acalmar o coração ansioso, e pedindo ao destino que agisse rápido.

Mais uma semana se passou, Sam continuava indo todo dia a mesma hora para o ponto de ônibus onde encontrou Helena pela primeira vez, sagradamente carregava consigo a pasta de couro com o bloco de A3 e nele a imagem da doce Helena. Mas Helena mais uma vez não apareceu, o que deixou seu coração mais e mais apertado e o fez crer por alguns segundos que nunca mais a veria.

Abriu a pasta, olhou mais uma vez para o rosto dela ali desenhado enquanto caminhava rumo ao trabalho, quando de repente...

CONTINUA...

sábado, 27 de outubro de 2012

Cumulus Somniis

Psilocybin Mushrooms (por Archan Nair)



E então aconteceu de um bando de sonhos desgarrados decidirem se juntar no céu até formarem uma enorme nuvem. Só que a nuvem ficou pesada demais, mas não queria chover, daí ela se dividiu em duas, mas ainda não conseguiam ficar flutuando lá no alto sem que estivessem a ponto de desabarem num aguaceiro onírico lá embaixo.

Foi então que tiveram uma idéia: já que eram sonho, podiam se tornar qualquer coisa, e decidiram se encolher o máximo que podiam, até virarem dois ovos de nuvens, e desses ovos nasceram dois seres alados que voaram pelo céu, e depois pousaram na terra, e andaram um tempo juntos de mãos dadas, para em seguida se separarem por um tempo, e rodarem o mundo, e logo mais tornaram a se encontrar.

Dois sonhos, um sonho, já não sabiam mais o que eram, só o que sentiam, e isto já era o bastante pra eles. Amavam-se e eram felizes, e só.



(mini-conto originalmente escrito em 21/10/2008)

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Beijo roubado




Talvez aquela fosse a manhã mais linda que eles haviam presenciado até ali. As nuvens formavam desenhos perfeitos. Os pássaros voam em perfeita harmonia, como num balé divino.

O vento doce tocava os cabelos e enchia os pulmões aos poucos.

E ela sem cerimônias foi logo enroscando a corda ao redor do corpo dele, pra que toda aquela timidez que o habitava não o deixasse fugir dali. 

Eram apenas crianças. Uma garota impulsiva e um garoto calado. Mas isso era irrelevante. 

Beijou, ou melhor, roubou-lhe a boca por um minuto, aproveitou-se da distração. Era o primeiro beijo. Beijo roubado, beijo doce, assustado. O melhor beijo de todos aqueles que um dia viriam. O mais inesquecível e sincero, o mais puro... 

Mal sabiam os dois, que a partir daquele dia aquele beijo nunca terminaria. Ela era dele. E ele era dela.


(micro-conto originalmente escrito em 05/09/2008)

domingo, 21 de outubro de 2012

A Manga e a Manhã de Sol - Parte 6


A vontade de Sam quando a viu sair do café foi correr atrás ela de novo, e acompanhá-la até o trabalho, só pra passar uns minutos a mais ao lado dela. Mas ele achou melhor terminar por ali mesmo naquele dia, pra não causar má impressão. "O destino vai pensar em algo..."

- Mas eu vou dar uma forcinha pra ele... - pensou alto.
- Perdão, senhor..?
- Hmm?! - olhou pra cima distraído, era o garçom - Ah sim! A conta por favor.
- Só um minuto, senhor.

Dali Sam foi direto pro trabalho. Entrou no estúdio distraído, pegando meio que sem pensar vários pincéis, o jato de ar comprimido, algumas latas de spray. Jogou tudo dentro de uma caixa, e foi levando pra caminhonete do lado de fora do prédio.

- E aí, Sam?
- Fala, Roger! - botou a caixa na carroceira, e já virou apertando a mão do rapaz - Beleza, véio?
- Na paz. Tá indo fazer a parede da Morning Star?
- Isto. Vou ver se adianto bastante agora de manhã, e termino até o final da tarde.
- Ontem chegou outro serviço pra gente logo depois de você sair.
- Ah é? E qualé a parada?
- Vão abrir uma nova galeria de arte perto da rodoviária central. Querem que a gente faça uns painéis em vidro pra decoração do salão principal.
- Parece coisa fina.
- E é mesmo. Vão pagar bem pra caramba, véio!
- Bom saber, cara. Tô afim de adiantar umas prestações da moto.
- Falando nela, em que pé tá o conserto?
- Liguei pra lá ontem, disseram que tá quase pronta.
- E o braço, tá melhor?
- Ah, quase não tô sentindo mais dor. Ainda bem que não quebrou nem nada, senão era capaz de acabar embaçando essa parada da galeria.
- É... Mas não aconteceu nada de grave. É isto que tá valendo.
- É...
- Bom, eu vou lá dentro fazer uns telefonemas. Você já vai?
- Vou pegar mais umas coisas lá dentro, e depois tô vazando.
- Ah, espera um pouco. Não vou levar nem 10 minutos. Vou até lá com você.
- Tá ok.

Sam pegou mais alguns pincéis e latas de tinta distraidamente, ainda pensando em Helena. Sentou meio de qualquer jeito na carroceria, cruzou os braços de um jeito bem largadão, e pensou: "Eu devia pelo menos ter pego o telefone dela..."

- Tá aí pensando no quê, rapaz?
- Nada não... Só...
- Só?
- Conheci uma garota hoje de manhã no ônibus.
- Opa! E pelo jeito te causou boa impressão pra te deixar assim.
- Ela era... radiante.
- Vixi... hahaha. Vai dizer que foi amor à primeira vista?
- Não sei, cara... Nem vou arriscar chamar isto de nada. Mas ela mexeu comigo. Aquele sorriso... O jeito dela...
- Tá apaixonado! Ah-lá, até corou agora! hahaha
- Ah, não enche, cara! - tentou parecer irritado, mas não conseguiu conter o riso.
- Mas, e aí, qualé o nome dela?
- Helena.
- Nome bonito. E o que vocês fizeram?
- Conversamos um pouco no ônibus, daí fomos tomar café juntos.
- Isso, garoto! Iniciativa é tudo!
- Ela já ia saindo sem me dizer o nome!
- Peraí, você foi atrás dela?
- Aham.
- Pra perguntar qual era o nome?
- Sim.
- Cara, que lindo! Conquistou a garota com essa.
- Ou fiz ela pensar que eu era um pervertido.
- E como ela reagiu?
- Correu tudo bem. Ela pareceu gostar.
- Mulheres gostam de caras ousados.
- Espero que sim... Mas o que é que a gente tá fazendo aqui ainda? Bora trabalhar, rapá! Já estamos atrasados.
- Tá, mas chega pra lá. Eu dirijo. Enquanto isto você conta mais um pouco sobre essa garota que conheceu.

E Sam contou a Roger cada detalhe de seu encontro com Helena, saboreando cada detalhe, e repassando cada momento daqueles breves minutos com ela, ansioso para repetir a dose.

Passou o dia pintando com Helena indo e voltando em sua memória, quase como se fosse ela a dona do lugar, averiguando de tempos em tempos o progresso de seu trabalho, com muito interesse. 

A distração e o trabalho ajudou o dia a passar rápido. Chegou em casa, tomou um banho, e deitou um pouco pra relaxar, mas não conseguiu. Não era capaz de esquecer o rosto de Helena. Levantou num salto. Teve uma idéia.

Correu pra escrivaninha, pegou seu bloco de A3, um lápis, e começou a rascunhar. Perdeu a noção do tempo enquanto desenhava, dando um retoque aqui, uma apagada ali. Tinha que sair o mais perfeito possível. Quando terminou já passava da uma da manhã.

- Destino, você vai ser meu melhor amigo agora, e vai me ajudar a encontrar essa garota de novo - estava quase em transe quando disse isto, olhando para o retrato que desenhou de Helena.

No dia seguinte foi para o mesmo ponto de ônibus onde a encontrou. Estava ansioso e nervoso demais. Carregava consigo uma pasta de couro grande, dentro trazia o bloco de A3. Olhou para um lado e para o outro da rua, observando atentamente se não via ela chegando de longe. Nem sinal.

"Ela deve tá atrasada."

Cinco minutos depois o ônibus chegou.

"Talvez ela já tenha pego em outro ponto. Talvez já esteja lá dentro!"

Subiu no ônibus de maneira apressada. Olhou cada uma das cadeiras ocupadas. Ela não estava ali.

"Será que peguei o ônibus certo?"

- Senhor, esse é o que vai pra Avenida Dois Lagos?
- É esse mesmo.
- Hmm... Obrigado...

Caminhou meio cabisbaixo até uma poltrona ao lado da janela, e ficou olhando pra fora.

"Talvez ela esteja muito atrasada..."

E assim foi ao longo de toda aquela semana. Sempre o mesmo ponto de ônibus, sempre com a esperança de encontrá-la por lá, e sempre descobrindo que ela não estava entre os passageiros.

"Qualé, Destino?  Eu quero ser seu amigo, mas você não tá cooperando!"

Mal sabia Sam que durante todo esse tempo, Helena estava...


CONTINUA...

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Uma mocinha

Toys (por Anna V. Prikhodchenko)



Já era uma mocinha, pelo menos foi com essa desculpa que Sara encaixotou todos os seus brinquedos. 


Era uma mocinha de 5 anos de idade. 



Pegou sua bolsa rosa, uma roupa "de mocinha", sandálias novas cor-de-rosa pra combinar com a bolsa, e claro, o batom. Toda mocinha usa batom! E seguiu rumo a porta de casa, prestes a sair "às compras" e encontrar outras mocinhas no shopping.



Tão ocupada em arrumar-se não viu que chovia lá fora, chuva forte. E logo começou a trovejar forte e alto.



Com medo correu para o quarto, e foi logo pegando Teddy e Sr. Jinggles na caixa e escondeu-se debaixo dos cobertores. Ela não queria ser uma mocinha naquela hora, queria apenas ser uma criança com medo de chuva.


(micro-conto originalmente escrito em 14/09/2008)

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

O Campo de Flores de Papel


Field of Paper Flowers (por Whitney Leith)



O que não podia era tudo continuar do jeito que estava. Vivia num lugar morto, sem movimento, sem som, sem cor. E não havia ninguém disposto a mudar isto, por pura acomodação.

Até que teve uma idéia. Abriu a velha caixa de bugigangas e encontrou, bem lá no fundo, um pouco amassado, aquilo que precisava. Só faltava agora uma tesoura, e quando a conseguiu, começou a trabalhar.

O papel rendeu pouco. Foi atrás de mais. Pegou alguns trocados na carteira e foi até a papelaria. E começou a fazer mais e mais. Encheu uma caixa de TV que estava encostada no quartinho de quinquilharias, e carregou-a até a praça da cidade.

Era uma praça cinza. Gramas secas. Árvores desfolhadas. Começou a tirá-las da caixa e espalhá-las em torno de si. 

Na hora do almoço parou pra comer um sanduíche. Ficou olhando o que já havia feito.

"Que lindo!" "Olha só que beleza!" "Nunca tinha visto algo tão maravilhoso!"

E os comentários não paravam, tamanha era a admiração de todos pelo enorme campo de flores de papel que foi crescendo sem alarde ao longo de toda aquela manhã.

A primavera havia encontrado outra forma de chegar naquele ano.



(micro-conto originalmente escrito em 30/10/2008)

terça-feira, 16 de outubro de 2012

A Manga e a Manhã de Sol - Parte 5



- Adorei a idéia, café nunca é demais... Hehe.


- Que bom que gostou! Mas me diga garota, você é sempre tão boa assim pra mistérios?

- Por quê?

- Parece estar escondendo de mim seu nome, ele é tão estranho assim?
- Ah me desculpe, não era a intenção, acho que estou ficando mais boba e distraída do que o normal. Eu sou Helena.
- Uau... 

Deixou escapar como estava impressionado com o nome, como estava impressionado com Helena, a doce Helena do sorriso de manhã de sol. E é claro que ela percebeu, mas fingiu não notar para não deixar sem graça seu príncipe dos cabelos de manga.



- E então como conheceu esse café?

- Ah eu venho sempre aqui pra rabiscar uma coisa ou outra, o cheiro do café e ver as pessoas lá fora me ajuda a pensar melhor, a criar melhor.

- Nossa quisera eu... 
- Ué mas o que te impede? Você pode também se quiser, você gosta de artes, o primeiro passo está dado.




- O que vocês desejam?

- Um expresso pra mim!

- Eu vou querer um capuccino com chantilly, disse ela sorrindo.



E passaram uns poucos momentos ali, conversando sobre tudo e nada ao mesmo tempo, naquele tempinho que antes de ela ir pro trabalho, e a vida continuar.




- Eu preciso ir. Disse ela meio sem jeito.

- Mas já? entristeceu-se. Como eu faço pra te ver de novo?

- De novo? perguntou ela tentando esconder o sorriso do canto da boca.
- Claro, você achou que ia se livrar de mim tão fácil assim?
- Não, não! Não foi isso que eu quis dizer... Bem... Não sei... Mas acho que o destino vai pensar em algo... hehe




E sorriu pra ele enquanto andava rumo à porta, com a certeza de que iam se encontrar de novo. 

E ele ficou ali sentado, olhando pra ela e pensando "Helena, doce Helena do sorriso de manhã de sol, você ainda vai ser a maior razão da minha felicidade."


CONTINUA...

domingo, 14 de outubro de 2012

Só mais um pouquinho


Sleeping peacefully (por Pete Revonkorpi)

"Vai! Vai! Entra logo nos sonhos dele." disse apressando-o
"Ah! A gente precisa mesmo ir?!"
"Claro! Afinal de contas, somos monstros, e crianças precisam sonhar com monstros também."
"Mas e se ele se assustar com a gente?"
"A idéia é essa!"
"Mas eu não quero assustá-lo. Ele parece estar tão feliz, dormindo em paz."
"Tá bem, tá bem! Hoje a gente volta pra casa, mas amanhã entramos nos sonhos dele."
"Que bom! Que bom!" sorriu satisfeito.
"Agora vamos embora." disse mal humorado.
"Deixa só eu ver ele mais um pouquinho."
"Ai ai... que tipo de monstro você é heim?"
"Um daqueles que adora criancinhas dormindo. Agora fale baixo, senão você vai acordá-lo."

E ficou ali, apreciando aquela paz toda.



(Micro-conto originalmente escrito em  05/11/2008)

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

A Manga e a Manhã de Sol - Parte 4


O ônibus já ia partindo quando...

- Peraí, motorista! Vou descer aqui também!

Algumas pessoas olharam meio assustadas para Sam. Ele se levantou muito rápido, e gritou de um jeito quase desesperado. Passou pelos passageiros ignorando seus olhares curiosos. Tudo em que ele pensava, todo foco de seu olhar estava dirigido lá para fora, para ela...

- Ei, garota! Espera aí!

Ela já havia se distanciado bastante, quase se perdendo na multidão de guarda-chuvas e sombrinhas abertas.

- Garota!

Samuel abria caminho entre aquele amontoado de anônimos, com medo de perdê-la.

- Droga, seu louco, se você já fez isto, agora trata de alcançá-la!

E a alcançou. Tocou-a no ombro.

- Ai!
- Calma, sou eu!
- Sam?! Nossa, eu pensei que fosse algum ladrão! Assim você me mata de susto. O que foi?
- Como assim, o que foi? Eu preciso saber seu nome!
- Meu nome? Você só desceu do ônibus pra perguntar meu nome?
- Se eu disser que sim, dá pra você não pensar que eu sou algum tipo de pervertido ou maníaco?
- Haha! E por que eu pensaria isto? Você é?
- NÃO! Claro que não! É só que... É tão difícil encontrar alguém interessante num ônibus, e você parece alguém muito interessante. E seria péssimo passar meu dia inteiro pensando "naquela garota que encontrei hoje cedo no ônibus" sem sequer saber o nome dela.
- Nossa, foi tão rápida a nossa conversa. Não achei que fui tão interessante assim.
- Olha! Que tal a gente tomar um café juntos? Você tá atrasada pro trabalho?
- Não, ainda falta meia hora.
- Ótimo! Deixa eu pagar um café pra você. Tem um ótimo que eu conheço que fica aqui perto. O que você acha?

CONTINUA...

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Olhos de Quasar

Fishing a star (por Anne Pätzke)


Olhos de Quasar acordava todas as manhãs, saía de sua folha de cristal, sentava-se sobre um dos montes de nebulosas, com sua vara cósmica com fio de luz, e anzol eletromagnético para pescar estrelas. Já contava milhares em sua coleção, guardada no quarto infinito, dentro de seu coração.

A cada nova estrela o brilho de seus olhos aumentava, e seus sonhos se tornavam mais concretos.


(micro-conto originalmente escrito em 03/09/2008)

sábado, 6 de outubro de 2012

A Manga e a Manhã de Sol - Parte 3


ELA: Uau! Pergunta difícil essa. O que eu faço? É mesmo... o que eu faço? Acho que faço de tudo um pouco nessa vida, como toda boa indecisa corro para todos os lados, mas meu negócio mesmo é arte, sou meio arteira, como você... Hehe. Gosto de ler, de escrever, as vezes me arrisco a desenhar, mas de todas as artes a minha favorita é cozinhar.



ELE: Cozinhar? Nossa, espero que você seja melhor que eu nisso, afinal de contas a minha arte culinária se resume a miojos, mas fico orgulhoso de dizer que sei cozinhar de vários sabores, hehe.




(Ela sorriu de novo, um sorrisão iluminado, daqueles que o deixava desorientado)




ELE: Eu sou Samuel, mas pode me chamar de Sam, qual seu nome?

ELA: Eu sou... Caraca! É meu ponto, preciso ir, até mais Sam, a gente se esbarra por aí.




E desceu apressada do ônibus, preenchendo o peito dele de saudade, e colocando de novo a manhã chuvosa e os tênis encharcados em primeiro plano. E a dúvida constante de se a veria novamente. Mal sabia ele que naquele instante, ela pensava e sentia exatamente as mesmas coisas.

CONTINUA...

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

A Manga e a Manhã de Sol - Parte 2

ELE: Oi.

(sorriso tímido. silêncio)

ELA: Chuvinha chata essa, né?
ELE: Pode crer! Saí sem guarda-chuva.
ELA: Quando a gente mais precisa a gente sempre esquece.
ELE: Mas não tem problema não. Eu "adoooro" chegar no trabalho encharcado.
ELA: Hehe... O que você faz?
ELE: Aplicação de pintura.
ELA: Como assim?
ELE: Faço pinturas personalizadas pra aplicação em paredes, vitrines, murais, geladeiras. Enfim, de tudo um pouco.
ELA: Puxa, que legal! Deve ser ótimo trabalhar com isto.
ELE: Eu gosto. É como minha mãe sempre diz, "Menino, você não vive sem fazer arte!"
ELA: Hahaha.
ELE: Eu aprontava muito quando era moleque. Se bem que continuo aprontando...

(olhou de lado pra ela, como que esperando pra ver sua reação. outra manhã de sol surgiu no rosto dela. "Putz, como ela é linda")

ELA: Então quer dizer que você apronta muito, é?
ELE:  Maneira de falar. Eu sou muito ansioso. Não páro quieto.
ELA: Eu também sou assim.
ELE: Ah é? E o que você faz?


CONTINUA...

A Manga e a Manhã de Sol


Era uma vez...


Ela estava no ponto de ônibus, distraída com o monte de anúncios pregados tortamente, lendo-os um a um como sempre fazia, perdida em suas próprias idéias, nas coisas que precisava fazer, provavelmente foi por isso que nem sequer percebeu que começara a chover e que ele parou ali encharcado, secando os cabelos de qualquer jeito. Provavelmente anos depois ela refaria esse momento um milhão de vezes em sua cabeça para tentar se lembrar do exato instante em que ele chegou ali, em que ela percebeu sua presença, haveria milhares de histórias, mas qual seria a real e verdadeira lembrança, ela nunca saberia ao certo.


Tinha cabelos compridos e cheiro de manga, era alto e usava roupas casuais, os olhos não sabia ao certo qual era a cor, mas gostava de pensar que toda manhã eles mudavam apenas pra ela. E estava encharcado, sentado de mau humor no ônibus quando esse finalmente resolvera dar as caras, torcendo para que ninguém ocupasse o banco ao lado, até o momento em que ela se sentou.


Seu sorriso é uma manhã de sol, pensou ele enquanto olhava pra ela disfarçadamente. 


Ela fingia não ver, afinal teria de admitir estar olhando pra ele também. Tentava esconder o fato de estar ali fazê-la sorrir, tentava esconder a felicidade de pensar que finalmente podia ter encontrado alguém que combinasse com o seu jeito sonhador e desleixado. Não se conteve, transbordando tudo que sentia em uma só palavra...


- Oi.


CONTINUA...