sexta-feira, 31 de maio de 2013

A finitude

When the wild wind blows (por nik159)

Contemplou o horizonte, já não era mais o mesmo desde que ela se foi. Os dias pareciam mais compridos, e o vento às vezes trazia o cheiro e a memória dela. Ainda era difícil entender a finitude das pessoas. Não entendia a finitude.

E numa tentativa boba sempre andava em direção à planície, pra bem perto daquelas margaridas onde a pedira em casamento durante o pôr do sol, estendia a velha toalha de piquenique e fazia uma oração para que o tempo voltasse, mesmo que por um final de tarde só pra vê-la sorrir de novo. Pra ver de novo o cristalino dos olhos dela.

- Está vendo esse céu, pequeno?
- Aham! Respondeu contemplando.
- Ela adorava olhar pra ele, vivia dizendo como nunca era igual, como era importante olhar pra ele todos os dias.
- Uau. Me conta mais dela pai!
- Ela era a mulher mais doce do mundo, a mais linda e especial! Disse com os olhos cheios d’água.
- Você sente falta dela?
- Todo tempo. Sempre vou sentir.
- Queria ter conhecido a mamãe.
- Eu também queria que você a tivesse conhecido, mas pelo menos a vida me deixou algo especial.
- O que pai?
- Você! E sempre que olho pra você eu a vejo! E isso é ótimo!

Talvez não fosse tão bobo procurá-la em todos os lugares, e nem rezar para tê-la por mais uma tarde, talvez o destino agisse de formas estranhas demais pra se compreender tão facilmente. Mas vida arrumara outras formas de mantê-la viva em sua memória, num pequeno milagre em forma de vida. E toda tarde seria especial ao lado desse pequeno, todo dia o céu seria um novo céu. E a cada pergunta, a cada segundo, ela voltaria a vida de novo numa boa história.

Talvez a finitude não fosse tão inaceitável, tão incompreensível. Enquanto houvesse memória ela seria eterna, ela estaria viva e seria a mais doce mulher de todas

Nenhum comentário:

Postar um comentário